Sobre amores modernos

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Três horas da madrugada

Postado por Antonio Augusto em 10 Novembro
Três horas da madrugada
 
Na noite profunda e escura da alma, são sempre três horas da madrugada.
F. Scott Fitzgerald
 
Há algum tempo seu relógio parou, e eram sempre três horas da madrugada, o dia todo, todos os dias. 
Era uma dor que não se dissipava, nem diminuía. Uma dor sorrateira, traiçoeira, que não perdoava nenhum descuido, ficava ali esperando seus momentos de maior fragilidade para tomar conta do seu corpo e da sua alma.
Ela procurava fazer o que estava ao seu alcance para superar a perda, a distância, a saudade, o desfecho e o que não aceitava. Não aceitava? Parecia absurdo porque não havia a alternativa de não aceitar. Era uma luta constante contra a impossibilidade, sentia-se em frente a um muro de quinze metros, frio e instransponível. E ficava ali parada, sombra refletida na parede, indicando que a vida havia sido de alguma forma interrompida.
Os amigos ligavam, tentavam animá-la e ela tentava reagir. A melhor amiga havia ligado e perguntado se ainda doía depois de tanto tempo. Ela respondeu: só quando respiro! A amiga deu um sorriso desconcertado, entendeu o sinal e desligou rapidamente. Sabia que palavras não ajudariam naquela situação. 
Ela estava cansada de si mesma, dos livros de autoajuda, das frases feitas, dos tapinhas nas costas, do tempo que se recusava a passar e levar a dor embora.
Olhou para o relógio e eram três horas da madrugada. Vestiu a calça jeans companheira, camiseta branca, prendeu os cabelos, entrou no carro e saiu pela cidade. Ela gostava da paisagem urbana noturna, das luzes e das poucas pessoas que transitavam, dando a impressão que chegariam a algum lugar. Ela simplesmente queria chegar em um lugar onde não houvesse dor, onde houvesse esperança. 
O sinal fechou, ela parou e uma placa em neon indicava uma clínica dentária de emergência. O estacionamento estava quase lotado, mas restava uma vaga. Ela estacionou. Entrou calmamente, sentou na sala de espera que estava repleta. 
As pessoas se olhavam com um ar diferente, sabiam o que era dor e da necessidade de se livrar dela, sem explicar, falar ou justificar qualquer coisa.
Ali havia solidariedade, os olhares diziam: eu sei exatamente como você se sente, também estou sofrendo, e como dói!
Aquele silêncio trouxe algum conforto para sua alma e ela adormeceu sentada.
 
Antonio Augusto
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Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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