Resposta para Roberta
Minha Cara Roberta,
Fiquei feliz ao receber sua carta. Nesse futuro que chegou: cheio de nuvens e incertezas, essa mensagem do passado é um convite a lembrar de quem realmente sou, do quanto já sonhei e do quanto caminhei.
Confesso que até hoje tenho certa dificuldade em lidar com a velocidade que a vida passou e passa! Meus pés sempre chegam antes da minha cabeça e da minha alma. Vou me acostumando com o ambiente que vai se apresentando, me adaptando e descobrindo novas formas de viver. Formas essas que, muitas vezes, me transformaram em alguém que desconheço.
Minha ideia juvenil de futuro era mais complexa e inconsequente que a sua: eu queria conquistar o mundo, deixando bandeiras por onde passasse, transformando lugares, lutando batalhas, navegando mares, mas sempre voltando ao porto de onde comecei minha expedição.
O tempo foi me mostrando aos poucos que meu sonho me transformaria em um Dom Quixote. Fui reduzindo o tamanho das expectativas de conquistas e das esperanças até que, como você, contentei-me com um pequena fortaleza, de onde saio para roteiros planejados e voltas comemoradas.
Essa construção que inicialmente era pequena, foi ganhando uma dimensão de segurança e proteção que transcende espaços. Nela me encontro e parece que me basto, conformando-me a viver sempre um dia de cada vez, como pregava de forma vazia, com a certeza e a convicção dos jovens.
Também encontro refúgio e alívio nos livros: muitos deles. Continuo a ler biografias, contos e, pasme você, romances! O eterno cético e cínico, como você me chamava, está mais cético ainda, mas a idade me mostrou que necessidades e desejos se sobrepõem a conceitos.
Acho que precisamos viver sentimentos, nem que sejam através de personagens.
Quanto à esperança de ter um amor que bastasse, desisti de lutar contra a existência dela. De alguma forma me alimenta, como me alimentou a alegria em receber sua carta.
Com afeto,
Antonio