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Padre nosso

Postado por Antonio Augusto em 08 Novembro

Padre nosso

Uma cidadezinha nas montanhas, clima ameno, repleta de pousadas aconchegantes, restaurantes charmosos, população pequena e hospitaleira. Não tem turismo ecológico, nem de aventura. Surpreendentemente o tipo de turismo que fez a cidade famosa, foi aquele lá criado: turismo matrimonial. Isso mesmo, as pessoas vão até São José do Riacho para permanecer casadas, enamoradas, superar crises, fazer votos ou renová-los.

A pequena igreja branca de portas e janelas azuis, ficava no topo de uma colina, cercada de um belo jardim onde flores dividiam o espaço com um gramado impecável.

Rezava a lenda que tudo começou quando Padre José lá chegou por volta de 1921. Era jovem, tímido e tinha um olhar triste constante, de quem viveu perdas irreparáveis e enterrou sonhos. Nada se soube do seu passado ou de sua origem. Quando perguntavam a respeito, respondia educadamente que estava a serviço de Deus e sua família era a humanidade.

Suas missas eram concorridas. Ele tinha o dom da oratória e sabia usar a palavra para chegar a corações e almas.

Viveu em São José do Riacho até os sessenta e cinco anos. Seu quarto composto de uma cama, um armário e uma escrivaninha revelava a simplicidade que o cercava. Sua morte foi sentida por toda a população.

Na semana anterior à chegada do novo padre, o diácono tratou de limpar o quarto e retirar os pertences de padre José. Encontrou vários cadernos cuidadosamente guardados em ordem cronológica. O primeiro, começava com uma oração do casal. A partir daí, cartas diárias a uma mulher, que deveria ter sido sua esposa e que havia falecido. Ele escreveu para sua amada até seu último dia. Cartas nunca enviadas, mas escritas como se fossem ser lidas.

A oração passou de mão em mão, de geração em geração e parecia ter um efeito de cura, de criar um espaço de entendimento, de acalmar os ânimos e de mostrar o caminho. A salvação de muitos casamentos foi atribuída à oração do casal, de Padre José.

Fazer a oração naquela igreja, numa tarde de primavera fazia milagres. Nunca houve comprovação científica, nem necessidade havia. Os céticos lá não iam, mas talvez os céticos passem a vida sem amar. O fato é que a cidade progredia com o número crescente de casais que lá se dirigiam para o encontro e a oração.

Como oração e água com açucar mal não fazem, transcrevo a seguir a do padre José:

Oração do casal

Senhor,

Aqui estamos, mãos dadas,unidos em nossos corações e em nosso amor, que é o reflexo da sua existência.

Renovamos nesse dia a aliança que fizemos para essa jornada de vida,

fruto do encontro que nos proporcionou, e da escolha que fizemos juntos.

Pedimos perdão pelos nossos pecados, e que também perdoemos um ao outro pelos nossos desencontros, por nossas imperfeições.

Que tenhamos paciência com os desafios diários que sempre virão,

que em meio às atribulações, não esqueçamos da palavra que conforta,

do toque que alimenta, do sorriso que faz a vida menos dura.

Pedimos saúde para continuar o caminho, que requer força e disposição,

serenidade para ouvir, humildade para admitir, equilíbrio para discernir,

e a lembrança contínua que, independente do que acontecer durante cada dia,

estaremos aqui nesse altar, te agradecendo no templo que juntos construimos

para celebrar o nosso amor, as nossas vidas.

Amém

Antonio Augusto

Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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