Nada melhor para criar empatia do que a solidão no frio! Pensei, ou melhor, senti e descobri que muitas das suas queixas procediam.
Eu tinha dificuldade em expressar minhas emoções, de me abrir para esse mar de sentimento que voce despejava em mim, a cada olhar, a cada beijo, a cada toque, a cada bilhetinho no espelho do banheiro.
Você sempre me viu em minhas cores reais, viu o que eu sentia, mas que sempre duvidei. Você sempre foi espelho e luz.
Luz traz sombra também, e você me dava medo. Duro admitir que tinha medo, mas tinha e dos grandes. Medo de precisar de você.
Pois é, o Ministério da Saúde deveria te obrigar a usar uma tarja: “causa dependência química”. Nesses seis meses tive grandes crises de abstinência de você.
Esse medo sempre foi o grande entrave. Aqui nesse deserto de neve, encarando minhas feras de frente, ele foi se dissipando como neblina que desaparece com a luz do sol. A falta que você faz é maior que qualquer medo. Descobri que iria te perder por medo de te perder. Que absurdo, não?
Você disse que me esperaria, mas com uma definição,já que não era mulher de viver com um homem dividido. Disse que esperaria, a menos que o Rodrigo Santoro lhe convidasse pra jantar. Por via das dúvidas mandei sequestrá-lo, mas ele está bem.
Chegarei na próxima sexta-feira, oito quilos mais magro, barbudo, pele ressecada pelo frio, rugas aparentes, mas inteiro e pronto pra te amar todos os dias, pelo resto da minha vida.
Com todo o meu amor,
Bernardo
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Bernardo,
Eu às vezes tenho vontade de morder sua orelha. Quando você me deu a notícia que iria passar seis meses numa base na Antártida, gelei! Confesso que fiquei com muita raiva inicialmente, que desejei que você fosse devorado por um urso polar. Mas passou logo.
Bernardo, seu bobo, eu sempre te vi, porque sempre olhei atentamente pra você. Você me encantou com esse seu jeito de falar, de explicar coisas complexas de maneira simples, de se entusiasmar com a vida, de ser engraçado,de se concentrar em seus objetivos como criança que joga videogame. Eu sempre admirei sua determinação e sua força. Aos meus olhos, seu medo de amar nunca lhe fez fraco.
Voce nasceu com o GPS danificado e com o botãozinho de “love” em OFF. Por isso você sempre acabava se perdendo de você mesmo, cada vez que me aproximava e tentava ligar o maldito botão.
Esses seis meses não foram nada fáceis! Foram noites de insônia pensando em você, como estaria, o que estaria pensando e sentindo, ficava literalmente viajando na “maioneve”. Também tive medo, mas no fundo do meu coração sempre acreditei que você despertaria.
Estou muito feliz. Confesso que será a semana mais longa da minha vida até você chegar.
Venha, Bernardo, venha logo pois já perdemos muito tempo. Não importa que você esteja magrinho e barbudo. Vai perder um pouco de peso antes de você voltar a engordar, mas valerá a pena.
Te amo como sempre te amei,
Elisa
PS: O Rodrigo Santoro você prendeu, mas o George Clooney me ligou!
Antonio Augusto
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