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Esperança pra quê?

Postado por Antonio Augusto em 30 Outubro

Esperança pra quê?

O despertador tocou a mesma música, que anunciava mais um dia sem sentido. Sentou na beira da cama por uns instantes. A dúvida entre voltar a posição horizontal ou se levantar era a mesma nos últimos tempos. Estava cansado de ficar triste, sem ânimo. Lembrou do sonho que teve, a imagem recorrente : ele parado, com muito calor, em frente a um portal gigantesco.

Ele gostava de interpretar sonhos, aliás um de seus defeitos era interpretar demais e viver de menos. Uma amiga escrachada dizia que ele interpretava até bula de remédios. Mas esse sonho tinha que ser interpretado, desvendado.

Imbuído de ser o Sherlock Holmes de si próprio, foi até sua biblioteca e começou a procurar o tal livro dos sonhos. Olhou nas prateleiras que alcançava mas não achou.

Todo homem inteligente tem cinco minutos de burrice durante o dia, ele tinha saldo acumulado. Pegou a cadeira com rodinhas do escritório e a usou para subir, e alcançar a prateleira mais alta. Ao pegar o livro procurado, despencou, carregando na queda inúmeros outros .

Caiu, bateu a cabeça, corte pequeno mas profundo, sangue jorrando, um livro estava em seu peito. Meio tonto sentou-se e viu o que estava sobre seu peito, cair no seu colo.

Era a Divina Comédia de Dante Alighieri. Ele abriu,leu uma página e ficou paralisado.

A poça de sangue o lembrou que tinha um corte. Levantou, foi ao banheiro e fez um curativo improvisado para estancar o sangramento.

O portal estava agora mais presente que nunca. Ele começou a entender que a vida sempre dá sinais, vai aumentando o tom para ver se a gente se toca, mas às vezes tem que dar uma porrada na cabeça pra gente entender. Não precisava ser tão forte, pensou ele, mas quem sabe fosse mesmo necessário..

Ele começou a sacar que o desânino e a tristeza, tinham a ver com a falta de planos, com a incapacidade de construir um futuro, de acreditar e de ter esperança.

Esperança era a palavra que soava feito sistema de auto-falantes de cidadezinha do interior.

Esperança numa vida melhor, que um dia tudo faça sentido, no encontro (verdadeiro e necessário) que ainda pode ocorrer, no inevitável que pode não ocorrer, na redenção (de si e dos outros), na solidariedade, na alegria, no sonho realizado. Esperança era a palavra e ele o cara sem ela.

Lembrou-se do livro e da frase que o fez acordar:

Portal do Inferno: Deixai toda esperança, vós que entrais!

Ali na entrada no Portal do Inferno, ele resolveu dar meia volta, ter esperança e viver a vida, pois no inferno não queria entrar. Ele não gostava muito de calor e tinha estudado em colégio de padre : vade retro, capeta!

Antonio Augusto

Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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