Sobre amores modernos

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Romantismo, Hollywood e gestos verdadeiros

Postado por Antonio Augusto em 17 Outubro
Romantismo, Hollywood e gestos verdadeiros
 
Já dizia um sábio filósofo que o ser humano tem uma grande facilidade de se acostumar com o que é bom. Acrescentaria ao que é bom, o que é imaginado, idealizado.
Para comprovar minha tese, basta observar o impacto que Hollywood tem sobre o imaginário popular, os desejos criados e as fantasias as quais nos acostumamos.
Quem não lembra das cenas de amor de um filme especial, e ainda não sonhou ser parte dela? Quem não queria ser a Julia Roberts esperando seu Richard Gere ou Mickey Rourke beijando a Kim Basinger em 9 e ½ semanas de amor? Nenhum problema em sonhar, a questão fica complicada quando as fantasias tiram o foco da realidade presente e de tudo que está ao alcance das mãos.
Cá entre nós, sabe aquela cena do sujeito que chega em casa, vai pra cozinha abraça a mulher, a coloca na bancada e faz sexo ardentemente? Isso só aconteceria se seu namorado, ou marido, fosse contorcionista e você a Audrey Hepburn quando estava bem magrinha.
Falando sério: as cenas rebuscadas, ensaiadas, de aviões que trazem mensagens de amor, beijos profundos em navios que estão afundando ou sexo pirotécnico, criam um patamar de expectativa muitas vezes irreal.
O ser humano já é um poço de insatisfação, acrescente-se a isso 60 anos de cenas e trilhas sonoras feitas para emocionar e sonhar, e o que temos? Um monte de gente ainda mais insatisfeita
Dia desses uma amiga ganhou um anel de brilhantes do marido, mas reclamou que ele simplesmente deu o anel. E? Perguntei. E mais nada, respondeu ela. Concordo que seria melhor com uma trilha sonora feita especialmente para o momento, uma chuva de pétalas mas, conhecendo o casal, sei que ele, apesar de meio travadinho, deve ter comprado o anel em 28 vezes.
Calma, não estou defendendo a falta de romantismo, as flores, a criatividade em presentear, as surpresas, as declaraçôes de amor inesperadas e inusitadas! O que chamo a atenção da cara leitora é o cuidado com a realidade, o significado dos grandes gestos silenciosos, que demonstram amor in natura e que, muitas vezes, passam desapercebidos ou, pior, não são reconhecidos.
Esses gestos são aqueles que definem uma vida a dois: aquela estadia no hospital segurando sua mão por 15 dias e te assegurando que tudo vai ficar bem, é brigar por você ao resolver um problema que é seu, é aquele olhar de “deixa comigo” quando seu desespero é patente, é amar o filho que é seu mas que ele trata como se fosse dele e vice-versa, é perdoar falhas (de fabricação e os acumuladas ao longo da vida), é ser capaz de olhar para o outro e aceitá-lo, pacote completo, virtudes e defeitos.
Tem muita gente dando lição de como amar, explicando o que é amar, criando trilhas sonoras e cenários para que o amor aconteça. E tem mais gente ainda esquecendo que o amor se constrói também no silencio da rotina, na difícil tarefa de se descobrir no outro, de querer se transformar pra ficar, pra continuar a caminhada. Essa construção silenciosa, árdua e que demanda afeto, entrega e generosidade, não dá bons filmes nem ganha Oscars, mas mostra, no final, o real sentido da nossa breve existência.
 
Antonio Augusto
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Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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