Alien, o interno passageiro
Em 1979, Ridley Scott dirigiu um filme que ficou famoso: Alien, o oitavo passageiro. Atendendo a um chamado, uma nave da Terra vai até um planeta e volta com um oitavo passageiro - um alienígena - que se instala e tem, inclusive, a capacidade de penetrar nas pessoas e devorá-las por dentro.
Fiquei pensando no filme e acredito que todos temos um ALIEN dentro de nós. Ele provoca inquietação, angústia, instabilidade. Todos convivemos mais ou menos com eles em fases de nossas vidas e algumas pessoas, a vida inteira, o tempo todo.
Esse ALIEN se alimenta de caos, tristeza, desencontros e cria um ciclo vicioso de busca por aceitação, dor, rejeição, angústia que é um inferno: para a própria pessoa e para quem está em volta. ALIENS hipertrofiados podem levar até a auto-destruição.
Quem tem um ALIEN desenvolvido, sofre e faz sofrer. Há relações entre os ALIENS de duas pessoas que se consomem mutuamente. É tristeza que transborda e machuca, um desperdício de tempo e vida.
ALIENS são sabotadores da felicidade. Ao primeiro sinal de bem estar, lá vem eles apontando o que está errado, buscando a porta de saída, olhando o que falta, o que poderia ser diferente. Sim, ALIENS adoram o futuro do pretérito: poderia, deveria, seria, estaria, melhoraria, gostaria. Tudo iria mas não vai, porque o ALIEN vive de imcompletude, da falta, da incerteza, da dúvida. ALIEN se alimenta do ideal que não chega.
ALIENS detestam dormir junto, pernas enroscadas debaixo de cobertor, sessão da tarde em dia frio, pipoca, vinho e bate-papo, música, viagens e todas essas coisas que aproximam as pessoas da essência do encontro. ALIENS gostam de jogos, de manipulação, de bancar o detetive, de traição, de culpa, de expor as fraquezas do outro, de torná-lo menor, de virar as costas, de dubiedade, de confundir. ALIENS adoram a escuridão, o que não é dito, profecias auto-realizadas. ALIENS adoram a frase: eu te disse!!
Alguma inquietação na vida é necessária, traz crescimento, aprendizado, descobertas, movimento e a vida é feita de movimento, o que não tem dinâmica morre mas também é preciso paz, tranquilidade, momentos de recarregar as baterias. Diz um sábio que Deus é encontrado na mente quieta!
Como em todo filme de ficção e terror, o caro leitor já deve estar com medo de olhar para dentro e dar de cara com seu próprio ALIEN. Calma, ele está aí dentro, mas a boa notícia é que pode ser controlado e atrofiado. Não nos livraremos dele nunca, pois o ser humano é um poço de insatisfação, mas há como estabelecer limites e mantê-lo a pão e água.
Lidar com esse passageiro interno, é saber-se incompleto por definição: 99.99% também é incompleto, mas não necessariamente ruim. Impossível ter tudo mas podemos ser felizes olhando em volta com atenção, observando tudo de bom que já temos, que conquistamos.
O passageiro interno é sorrateiro, ardiloso, rancoroso e está sempre à espreita. Qualquer frustração, perda, tristeza e ele cresce feito bolo no forno. É preciso sempre estar atento e sorrir bastante, rir até de si mesmo. Humor e alegria fazem o ALIEN murchar.
A melhor maneira de manter o ALIEN domesticado é sendo boa companhia pra si mesmo primeiro, depois encontrando um(a) companheiro(a) de viagem e cuidando dele(a), sorrindo e aproveitando a viagem a cada dia, todo dia.
Pensando bem, um ALIENZINHO pequeno e domesticado tem lá sua utilidade, pode até trazer mudanças necessárias, quebras de paradigma, experimentação do novo. Mas antes de olhar pra dentro, lembre-se: pequeno e domesticado, tá?
Antonio Augusto
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