Ele sempre desconfiou das grandes certezas, das inquestionáveis verdades, da superioridade moral e de tudo que significasse mais fé e menos reflexão. Deixar de lado sua capacidade de pensar e sua intuição, em nome de promessas de vida eterna, salvação ou de estabilidade de emprego, nunca o atraiu. Nas poucas vezes que se deixou levar, o arrependimento veio rápido e trouxe o ônus adicional de ter se enganado, traído a sua mais profunda essência.
Seu espírito era livre, como seus pensamentos, e não cabia em quintais; não admitia cercas nem fronteiras; adorava velas, temia âncoras.
Andou pelo mundo olhando paisagens, caminhando sobre muralhas, visitando templos, aprendendo o quanto geografia é destino e como a história se faz com crenças, paixões e loucuras das pessoas.
Depois de muito caminhar, sentiu que era o momento de voltar para casa - como certos animais que trilham o caminho de volta, guiados por uma força invisível e suprema.
O caminho de volta foi penoso, como são as despedidas, mas havia a certeza de que era necessário. Havia todavia um certo alento, criado pela esperança do que encontraria.
Ao chegar, se descobriu estrangeiro em sua própria terra. Ele que havia se modificado com tantas vivências, descobriu, surpreso, que tudo estava muito parecido com o que havia deixado, demasiadamente igual. Pensou em partir novamente, pois partir seria fácil! Sua bagagem era pequena e leve... mas não conseguiu!
Antonio Augusto