Meu nome é Alejandro Sagres, ex-padre jesuíta e peregrino. Nasci
em Sevilha, mas a Igreja e o sacerdócio me trouxeram aos trópicos,
fazendo de minha vida uma trilha irregular abaixo do equador.
Venho de uma família numerosa, assim como são numerosas as
angústias que acometem as grandes famílias. Meu pai foi
seminarista, mas fugiu a poucos meses da ordenação. Apaixonou-se
pela filha de um diácono, engravidando-a, espalhando surpresa e
vergonha na cidade que abrigava o seminário.
O matrimônio durou menos que sua fé: abandonou a moça alguns
meses depois à própria sorte e saiu pelo mundo. Nunca mais se
soube dele.
A filha do diácono era minha mãe que passou o resto da vida
acreditando ser Eva, ter comido do fruto proibido e ter sido expulsa
do paraíso. O processo de redenção incluiu a castidade e entregar o
filho à Igreja, a fim de reparar o erro causado por meu pai. A
associação entre castidade e redenção me foi passada como uma
maldição genética.
Fui criado entre rezas, novenas, procissões, missas e entre mais de
vinte primos e primas que sempre me olhavam com uma mistura de
pena e desprezo, que tocavam fundo na minha alma, dilacerando
minha autoestima, criando o poço de raiva e ressentimento
responsáveis por tantas decisões equivocadas que transformariam
minha vida.
A adolescência foi um período de vigilância potencializada, pois
minha mãe sabia que fé e hormônios têm dificuldade em se
manterem no mesmo espaço.
Agradeci a Deus, pois achava que o martírio da adolescência seria
interrompido quando partisse para o seminário. Lá chegando,
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descobri, mais uma vez, que esperanças e sonhos são bolhas de
sabão ao vento, facilmente destruídas por banhos frios matinais,
excesso de disciplina e assédio de padres velhos, amargurados e
cheios de desejos reprimidos.
Também aprendi que desgraça compartilhada é desgraça reduzida. A
convivência com os colegas de seminário resultou em grandes
amizades e histórias que dariam um livro. Ao pensar e falar dos
amigos que deixei pelo caminho, faço uma digressão, me
distanciando do que desejo falar a respeito.
Antes da ordenação, conheci o Bispo Ludovico, um italiano que
resolveu ser meu mentor. Desde o início percebi que atrás da
intenção de servir como mestre, havia o desejo escamoteado de um
predador. Os anos de sobrevivência me ensinaram a dissimular e
jogar com os sentimentos e desejos dos outros. Assim, estabeleci
com o bispo um vínculo baseado na sedução e, como li em algum
lugar, seduzir é prometer aquilo que nunca será dado.
O bispo virou cardeal e foi transferido para o Rio de Janeiro e não
teve dificuldade em dar um jeito de me transferir para a sua diocese.
A ideia de viver no Rio de Janeiro capturou minha imaginação, desde
o início. Viver naquela terra profana que exalava pecado; onde
música, dança e fantasias se misturavam, criando um festival
contínuo de pecado, parecia o prenúncio da minha libertação.
Mal sabia eu que a libertação das amarras atávicas cobraria de mim
um preço quase insuportável.
Essa libertação começou quando conheci Irmã Consuelo. Ela estava
coberta dos pés à cabeça, mas a parte do rosto que ficava à mostra,
revelava os olhos de uma mulher intensa, doce, sensual e que podia
transformar a vida de um homem.
Aquele olhar passou a frequentar meus pensamentos, meus sonhos
e teve sobre mim um impacto avassalador; passei a precisar da sua
presença, da sua voz, da sua companhia. A vida passou a ter um
outro sabor depois que conheci Irmã Consuelo e o tempo, antes
inimigo, virou um aliado dos sonhos que passei a ter.
Consuelo, passei a chamá-la assim, pois era difícil tratá-la como
irmã, era cúmplice das desculpas que invocava para a encontrar na
escola secundária onde lecionava. Estabelecemos um ritual de
amantes que não podem se revelar, nem serem descobertos. Todo
cuidado era pouco, pois as paredes de edifícios religiosos guardam
em seu cimento, o olhar e as escutas onipresentes da inquisição.
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As conversas tornaram-se longas danças de acasalamento
disfarçadas, e uma busca incansável pelo toque, qualquer toque que
abrisse a comporta daquela imensa usina de desejos e emoções.
Eu desejava Consuelo, toda hora, e sentia prazer em sentir o seu
desejo. Seu olhar havia se transformado; a doçura foi substituída por
promessa e poder, o domínio da fêmea que controla o macho através
dos instintos.
Não sei se foram semanas, pois perdi completamente a noção de
tempo, ou meses, até o dia que recebi uma mensagem de Consuelo:
devia encontrá-la na Capela de Maria às onze da manhã.
Passei a noite em claro, pensando no que teria feito Consuelo me
convocar para aquele encontro.
Às dez horas cheguei na capela, sentei no banco mais próximo do
altar e tentei me acalmar, rezando. Não conseguia me concentrar,
pois um sentimento de inquietação tomava conta de mim. Minha
intuição berrava que algo estava errado.
Às onze horas Irmã Rosilda entrou na capela e veio em direção a
mim. Com um olhar piedoso me comunicou que não poderia mais me
encontrar com Consuelo e que ela havia sido transferida para outro
país.
Senti medo, raiva,ódio, desespero e a confusão tomou conta de mim.
Implorei por saber onde iria Consuelo, mas Irmã Rosilda se negou a
falar. Fui até o colégio, mas não me deixaram entrar. Andei pela
cidade, perdido, até a madrugada; cansado, voltei para casa e
adormeci.
Os dias, semanas e meses seguintes foram um mergulho em
território de desespero e desalento. Não conseguia comer, dormir,
respirar, viver. O destino tirou de mim o sentido que havia
descoberto. O pensamento obsessivo em Consuelo fazia de mim um
alucinado, viciado, preso em um círculo enlouquecedor.
Quando a vida nos apresenta a morte como alternativa, subitamente,
descobrimos coragem onde jamais pensávamos existir alguma.
Assim foi comigo à beira do desespero.
O sinal sonoro do telefone avisou que havia uma mensagem. Peguei
o telefone e li : Consuelo está no Chile. Não desista. Ela te ama
também.
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