Fabiana entrou no minúsculo apartamento de 49 metros quadrados, mas sua alegria era do tamanho do mundo. Sua mudança consistia de algumas malas, uma cama, uma geladeira e dois quadros. A cama de casal ocupou quase todo o espaço do quarto. Apesar de se intitular arquiteta autodidata, a desproporção não a incomodava. Aquela cama era fundamental pois queria flutuar pelas noites, sem obstáculos e sem presenças. Queria estar só! Passou inúmeras noites em claro, sonhando com a solidão desacompanhada! Olhou para as paredes brancas em tinta off white. As paredes nuas cheiravam a possibilidades, descobertas e liberdade. Imaginou os dois quadros sobre a cama. Mediu, centralizou, pegou o martelo, colocou os dois pregos com cuidado, machucou o dedo, mas nem a dor da batida do martelo a fez despertar do estado de prazer. Durante muito tempo andou por grandes espaços,ilhas de distância e disfarçou no olhar uma certa tristeza que os passarinhos engaiolados possuem. Caminhou tempo demais com aquela sensação de desconforto, de estar onde não desejava, nem pertencia. Agora era diferente; ela se sentia verdadeiramente só, mas inteira, absoluta em seu espaço e em sua vida. Olhou para os dois quadros na parede e teve a certeza de ter recomeçado a viver!
Antonio Augusto
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