Sobre amores modernos

Categoria :

Inevitável

Postado por Antonio Augusto em 24 Janeiro

O maquinista avistou o fim do caminho, o precipício desvendado pela ausência da ponte. Tentou parar o trem mas o esforço parecia inútil, a angústia do desastre inevitável tomou conta de seu copo e ele pensou em todos que amava, tudo que deixaria para trás e da memória que se tornaria.

Assim ficou a cena final do romance que levara anos para concluir. Sim, o fim terminava com a morte mas esse final não era o que lhe vinha a mente quando a cena do precipício apareceu em um sonho. Na verdade, o trem era uma metáfora para seus padrões de comportamento que ditavam onde suas emoções o levariam e o que faria, vez após vez. Era ele o próprio maquinista do seu corpo, angustiado frente ao caminho inexorável que levava ao precipício uma, duas, três, todas as vezes, há tanto tempo.

Agora entendia porque havia decidido se tornar escritor. Gostava das palavras, de montar peças que lembravam esculturas e que, dependendo do ângulo observado, davam possibilidades a interpretações variadas, a caminhos que fugissem ao destino.

Além do mais, como escritor, determinava a sorte dos personagens e era senhor das emoções e dos finais. A literatura era tão mais simples que viver, e as vidas experimentadas traziam um certo conforto.

Antonio Augusto

Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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