Diálogo da separação
- Que mala é essa. Vai viajar?
- Não, vou embora.
- Embora?
- Sim, cansei.
- Cansou de mim?
- Não, do que você me faz sentir.
- O que eu te faço sentir?
- Não importa mais.
- Você não quer conversar?
- Você não entenderia nem aguentaria a verdade.
- Melhor a verdade que a dúvida.
- Então vou falar.
- Diga.
- Descobri que você não é quem eu imaginava, não é mais o homem por quem me apaixonei.
- Mas a gente sempre se apaixona por quem não conhece mesmo.
- Não me venha com essas justificativas.
- Após vinte anos a gente muda mesmo.
- Mas você mudou demais, não há mais vestígios daquele que amei um dia.
- E você só descobriu isso agora?
- Não, já tem algum tempo.
- Quanto tempo?
- Uns dez anos.
- Então você estava me traindo.
- Como assim?
- Você está há dez anos dormindo com alguém que não sou eu, sem eu saber.
- Quer me confundir?
- Não, é apenas um conclusão.
- Não insista, eu não vou mudar de ideia.
- Eu não quero que você mude de ideia.
- Então você realmente quer se separar?
- Não, eu não quero me separar. Eu já me acostumei com vocês.
- Vocês quem?
- Aquela mulher por quem me apaixonei, as outras em quem você se transformou e que continuei amando.
- Então desisto.
- De conversar?
- Não, de ir embora.
- Por quê?
- Vai que eu me apaixono por um desconhecido.
Antonio Augusto