Sobre amores modernos

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Adormecido

Postado por Antonio Augusto em 02 Junho

Seria mais um livro sobre neurociência que Gustavo adicionaria à imensa biblioteca, não fosse aquele parágrafo:

"Admitir que o desarranjo do caos, desordem e aleatoriedade dominam sua vida, e o próprio universo, é um conceito doloroso. Você precisa de ordem. A ordem torna mais fácil ser uma pessoa, navegar por este mundo desleixado."

Quanto mais relia, mais as coisas ficavam claras e toda a sua vida podia ser explicada. Sentia-se como se estivesse lendo o roteiro de um filme em que, era ele, o protagonista.

Durante toda a vida perseguiu a ordem e recusou-se a admitir que o acaso determinasse sua vida, mas agora não tinha certeza se tivera sucesso ou se era tudo obra do destino.

Pensou nas escolhas que fez, nos caminhos percorridos e onde não foi, por falta de coragem disfarçada de racionalidade ou apenas a paralisia perante o desconhecido.

Pensou no casamento de vinte anos, uma relação estável, previsível mas uma réplica mal feita do que sempe desejou.

Ah o desejo, esse elemento que subverte a ordem natural das coisas e é responsável por paradas, desvios, atropelos e mudanças de rotas e planos. Desejo e caos andam juntos, um equilíbrio sutil e tênue, basta um descuido da alma e ...bum, bing bang!

Respirou fundo, uma certa ansiedade criava uma sensação de desconforto quando memórias dos desejos pipocavam em sua mente. Sim, todos aqueles desejos que pareciam ter sido enterrados pelas escolhas racionais que mantiveram sua vida em ordem, previsível e um tédio longo, contínuo e irrelevante.

Respirou mais profundamente ainda, bebeu água, sentou-se na cadeira de balanço, mais uma vez descartou os desejos e abriu mão de navegar por esse mundo desleixado. Adormeceu no mesmo sono profundo do qual nunca acordou.

Antonio Augusto

Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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