Foi tudo perfeito: a combinação de sol e temperatura amena que faz dos dias de primavera tão especiais, a conversa fácil que traz sorrisos, questões que fazem pensar, o ping-pong intelectual que é ao mesmo tempo estimulante e prazeroso. O almoço preparado como um ritual no templo dela. A tarde passou rápido e suave como um vôo de asa delta.
Ter um homem ao seu lado na cama era ao mesmo tempo bom, estimulante e estranho. Ela já havia se acostumado com os espaços vazios noturnos e as manhãs na companhia da sua caneca de café favorita.
A gente se acostuma a tanta coisa e esquece o sabor das sensações que disparam as fagulhas do que há de mais humano em cada um de nós, pensou ela.
Olhou para o lado e aquele corpo masculino que a aquecia, realmente fazia a diferença. Era mais que a presença, era o cheiro, o toque, algo mágico que transformava os momentos em experiências com sentido, significado e profundidade. Ela sentiu uma estranha sensação de proteção e adormeceu profundamente. Um sono bom feito sonho.
Acordou no meio da noite mas era diferente. Quando estava só, acordava com uma certa inquietação e a cabeça não parava de pensar. Ao acordar acompanhada apenas sentia-se bem e pronto. Encaixou-se de mansinho no corpo dele, sorriu e não quis mais pensar. O ipod que ficara ligado tocava músicas que embalavam a madrugada. De repente a música da Carole King : Will you still love me tomorrow? Você ainda vai me amar amanhã? Ela o abraçou e fez a pergunta baixinho a medida que a música tocava. Sabia que podia viver sem a resposta mas desejava que o amanhã existisse, que existissem mais outros dias como aquele, como sempre quis, antes de aprender a ser só e a conviver com longas noites.
A música acabou mas a pergunta ficou e,diferente de tantas outras noites, ela desejou que aquela durasse muito mais.
Você ainda vai me amar amanhã?
Você ainda vai me amar amanhã?
Após repetir a pergunta dezenas de vezes, lembrou de outros amores e quantas vezes fez aquela mesma pergunta, e como as respostas vieram independente do que ela desejava, porque a vida é cheia de caprichos e os amores percorrem os caminhos que os Deuses desejam e não nos permitem compreender.
Aconchegou-se mais uma vez e lembrou que se sentia amada naquele dia, naquele momento... e era tudo que importava.
Antonio Augusto
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