Sobre amores modernos

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O destino do palácio

Postado por Antonio Augusto em 18 Setembro
Eles se conheceram e acharam que criariam um mundo juntos. Foi tudo rápido, arrebatador. Decidiram construir um palácio onde colocariam os sentimentos, os projetos, e a vida que criariam. Eles sempre sonharam com um Taj Mahal particular.
Havia um problema todavia: eram ansiosos, apressados,atropelavam e se atropelavam. Além de terem chegado até aquele ponto sem terem enfrentado seus fantasmas.
Achavam aquele negócio de fundação, complicado. Pensar na planta levaria muito tempo, calcular a estrutura, um atraso de vida. E o futuro parecia promissor, cheio de atrativos, pronto para ser vivido. Era tempo de colher o que não haviam plantado.
Sem levar em conta a ciência e a paciência, foram construindo: um puxadinho aqui, um pilar ali, uma viga acolá. Depois de três meses a construção acabou, ou melhor, foi dada por concluída. E eles se mudaram de mala e cuia para viver o sonho no palácio erguido.
Era um palácio de sonhos, mas só de sonhos, pois ninguém percebia que ele existia. Aquele amontoado de madeira e cimento, montados às pressas, não tinha jeito de palácio, estrutura de palácio e não era palácio. Mas isso não importava. O que é a realidade quando o desejo não cabe em si mesmo?
O que o mundo percebia não era um palácio, era um sobradinho, engraçadinho, desengoçado,mas para eles era um lar aconchegante e nele caberiam todos os desejos e os planos. Mas a vida sempre tem outros planos.
Desde os primeiro dias os problemas apareceram. Vazamentos, goteiras, rachaduras nas paredes. Mas eles acreditavam que o sobradinho era o Taj Mahal, e isso seria suficiente. Com o tempo a solução dos problemas que apareciam todos os dias, consumiam mais tempo que viver e aproveitar o palácio. E foram tantas soluções improvisadas e salvadoras : paredes rachadas? talvez um belo papel de parede europeu resolvesse? banheiro sem descarga? nada que um balde reserva e sempre cheio não se encarregasse. Falta de tomadas? Uma extensão resolveria.
O único problema recorrente, cujo impacto aumentava com o tempo, era uma protuberância no chão, bem no corredor. O casal sempre tropeçava naquele maldito montinho que insistia em aparecer nos piores momentos. Com o passar do tempo os dedos dos pés já registravam o número de tropeços. Caminhar pelo palácio ficava cada vez mais arriscado.
A partir de um tempo pessoas próximas advertiram sobre a inclinação do “palácio, mas eles não conseguiam perceber, achavam que na pior das hipóteses, teriam uma torre de Pisa moderna. 
A gente pode desconsiderar a realidade mas não pode desconsiderar os efeitos da realidade e eles aprenderiam a lição da pior maneira possível. Um dia a casa caiu, ou melhor, o palácio desmoronou.
 
Antonio Augusto
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Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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