Sobre amores modernos

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Seu Maneca

Postado por Antonio Augusto em 28 Agosto
Hoje eu acordei com saudades de Seu Maneca. Isso mesmo, Maneca e não Maneco. Você me pergunta quem é ele e eu respondo de bate pronto: o avô do meu amigo de adolescência. Eu sei que pode parecer estranho, lá se vão mais de 36 anos! E eu com saudades dele? Pois é, estou e é uma saudade que mistura alegria, carinho, aprendizado, ternura e entretenimento. 
Saudade toda misturada? Sim, pois Seu Maneca tinha três qualidades que se completavam e criavam uma aura de magia. Um sorriso sincero, um humor nordestino e uma rara habilidade de contar histórias. Acho que, inspirado nele, comecei a contar minhas próprias histórias e ter vontade de escrever. 
Quando conheci Seu Maneca ele se recuperava de uma cirurgia. Lembro dos curativos nas costas, da maneira como fazia pouco da morte. Ele sempre dizia que havia vivido tudo e tudo muito bem. Cantou, dançou, amou, sorriu, trabalhou, criou um filho do qual tinha um imenso orgulho. Filho este que realizou muito, que transformou sonhos em realidade, enquanto Seu Maneca viveu e sonhou, sem arrependimentos. 
Sei que existe uma tendência nostálgica que chega com a maturidade, um jeito de olhar para o passado como se as coisas fossem melhores. A velhice, além de uma fonte inesgotável de ironias, traz uma certa tristeza, uma consciência de que o caminho está ficando mais curto e estreito. Mas Seu Maneca era diferente. Ele tinha entusiasmo com o novo, com as possibilidades e colocava ao passado no lugar que ele deve estar, nas prateleiras, com as fotos e o que ficou para trás.
Abrindo alguns arquivos empoeirados de minha memória, lembro do jeito moleque que Seu Maneca mantinha com facilidade. Ele era irônico, raciocínio rápido e um intérprete do momento presente. Havia um assunto que tornava ainda mais intenso aquele senhor de oitenta e poucos anos, doente e cansado: política. Eu fui presenteado com um professor de história particular. Aqueles personagens da república ganhavam vida através da narrativa de Seu Maneca. Getúlio, Juscelino, Castelo Branco, Médici. Ele falava como se os tivesse conhecido pessoalmente. Sapecava adjetivos com uma familiaridade impressionante. Ele quase levantava da cadeira na varanda onde conversávamos para fazer um discurso, e eu ali, saboreando um comício só pra mim.
Seu Maneca não dava conselhos, inspirava ações. Ele era um livro de fábulas, na verdade, pra mim ele era uma fábula viva. Mais que isso, um herói que não almejava ser herói, um homem simples que viveu seu tempo e aproveitou a vida, a música, as mulheres. Ah as mulheres! Ele falava delas com uma reverência que só os poetas, os boêmios e os apaixonados conseguem ter. Também reclamava que a velhice não nos impede de saborerar com os olhos, mas apenas com os olhos. 
Engraçado que após tantos anos, ao falar dele e reviver emoções tão especiais, o tenha feito escrevendo. Sem querer, criei esse tributo ao meu contador de histórias favorito. Sei que de onde estiver ele vai dar aquele sorriso acolhedor e com humildade, agradecer a homenagem e me lembrar de viver a vida com alegria, porque ela passa rápido demais, como ele não cansava de repetir.
 
Antonio Augusto
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Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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