Sobre amores modernos

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Ousar?

Postado por Antonio Augusto em 14 Julho

Ousar ?

 

Lucas chegou em casa após percorrer o mesmo percurso que fazia há vinte e cinco anos, três meses e quatro dias. Sabia exatamente, porque registrava todos os insignificantes eventos da sua vida em um diário. Incontáveis detalhes de uma vida pálida, que encontrava razão na rotina, onde meios e fins se confundiam, ou talvez nunca foram diferenciados.

Lucas sempre se sentiu atraído por uma poderosa energia que o impelia à mediocridade, ao comum, à invisibilidade, às margens. Havia nele um temor pelo desconhecido, pelo que podia dar errado. O medo de viver o paralisou em todos os momentos da vida em que coragem teria feito a diferença, significado um novo curso.

Durante um período quis ter coragem, tentou e até se culpou por não tê-la, depois o tempo simplesmente passou e acomodou tudo, até os desejos.

Um dia ouviu seu pastor dizer : " de todo aquele a quem muito é dado, muito será requerido; e daquele a quem muito é confiado, mais ainda lhe será exigido". Naquele momento uma certa tranquilidade invadiu sua alma. Era como se tivesse encontrado a explicação, a justificativa. Ele sabia que muito pouco recebeu e se sentiu aliviado, nada poderia ser dele cobrado. Assim era a vida, assim resolveu seguir como se estivesse numa esteira rolante, andando sem sair do lugar.

Foi ao banheiro, lavou as mãos, bebeu água,sentou em frente a janela, quinto andar em um prédio de nove andares. Olhava através da janela e via o movimento das pessoas em direção ao estádio de futebol, dia de final de campeonato. Não conseguia entender a paixão dos torcedores, na verdade não entendia o conceito de paixão, nem porque as pessoas se entregariam a algo que as faria perder a razão e o controle. Vida tão estranha, como diria um fado que ele adorava. Aliás, ouvir fados era o máximo de emoção que Lucas se permitia. Sentia-se acolhido e compreendido naquela melancolia musical que fazia da tristeza companhia.

A tristeza trouxe fome. Levantou foi até a cozinha, abriu a geladeira que guardava apenas garrafas de água, sobras de refeições passadas, margarina e um pote com azeitonas.Resolveu ir até a padaria.

Pegou o elevador repleto de torcedores uniformizados e barulhentos. Ele exatamente no meio deles, sem fazer parte. Era assim que se sentia onde quer que estivesse acompanhado.

Aqueles quarenta e cinco segundos pareceram uma eternidade. Estar acompanhado por muito tempo era uma tortura para Lucas. Ele gostava da solidão e de anonimato.

Chegou ao hall do edifício e cumprimentou Lucindo, o porteiro, lobo solitário como ele, sobrevivente e responsável por gestos de gentileza e solidariedade com Lucas, que criaram uma amizade silenciosa entre eles.

Ao sair do prédio notou um carro desgovernado que vinha em sua direção. Ficou parado sem saber o que fazer, paralisado diante do risco. O carro desviou e bateu no poste a poucos metros. Dois sujeitos atordoados e armados, sairam apressados, arrastando uma mulher que parecia desesperada. Ela olhou para Lucas e pediu socorro. Ele continuou imóvel até que os dois homens vieram em sua direção. Um deles empurrou Lucas e o obrigou a entrar no prédio. A essa altura inúmeros carros policiais chegavam com suas sirenes estrondosas. Uma equipe de TV que se dirigia ao estádio, parou para registrar o inusitado.

Lucindo abriu o portão do prédio e foi agredido por um dos homens. O outro empurrou Lucas e a mulher. A essa altura as cenas de violência estavam em rede nacional de televisão.

Assustados e nervosos os dois bandidos não sabiam o que fazer.Um deles apontou a arma para Lucindo e ameaçou atirar. Lucas percebeu ser mais que uma ameaça. Com um gesto corajoso empurrou o braço do sujeito que disparou e atingiu o companheiro. Esse, ao cair, atirou em Lucas. Tudo registrado pelas câmeras e visto por milhões de pessoas.

Aproveitando a confusão, a polícia invadiu o prédio e dominou a situação.

Lucas, atingido no peito, aguardava a chegada da ambulância. Sabia que morreria, mas que havia tomado a decisão certa. Era irônico que fosse morrer por ter ousado uma única vez, mas não se importava.

 

Antonio Augusto

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Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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