Em algum lugar do sertão baiano
- Nairzinha, por que tu tá assim de calundu?
- Repare, minha mãe, eu tenho muitos motivos pra está triste e com raiva.
- Minha filha, ficar retada assim é perda de tempo, porque no final…
- No final o quê?
- No final tudo acaba.
- Mas antes de acabar dá muito trabalho.
- Vixe Maria, lá vem você com esse papo comprido.
- De novo, novamente, minha mãe.
- Aceite e pronto.
- Não me conformo que ele foi embora e largou a culpa em mim.
- Largou e você pegou.
- Verdade, agora dei pra isso. Pra me culpar.
- E qual a serventia de culpa, minha menina?
- Além de dar assunto pra padre?
- Além disso?
- Pra passar o tempo e esconder a dor.
- Mas filha, enquanto não doer tudo, não passa.
- Mas quando dói é muito ruim.
- Eu sei. Já tive mais dores que rugas no rosto.
- Você ainda está uma mulher porreta, tudo em cima, mainha.
- Até parece.
- E o que eu faço pra parar de pensar naquele cachorro magro?
- Vá se distrair. Ligue pro Joílton.
- O Joílton é taxeiro, esqueceu? Você disse que taxeiro não presta.
- Mas você está precisando dar umas voltinhas, nem que seja de táxi.
- Mas eu quero ir atrás dele.
- Se fizer isso eu vou lhe picar a porra.
- Já estou velha pra apanhar de mãe, não?
- Filha, você tem que desencher o peito desse amor.
- Não consigo, minha mãe.
- Consegue, sim. Vou lhe levar no terreiro.
- Pra fazer um bozó pra ele?
- Pra fazer qualquer coisa pra você esquecer aquele tabaréu.
- Fale assim dele, não.
- Tem jeito não. Você parece que está amarrada de corda.
- E o que faço, criatura?
- Não conte conversa e siga seu coração.
- E se eu me estrepar?
- Minha filha, cajueiro não dá manga.
- Eu sei, mainha, mas tenho que ir.
- Então não conte conversa. A vida não espera.
- Benção, mainha.
- Deus lhe abençoe, minha filha.
Antonio Augusto