Para se salvar
Maria Auxiliadora acreditava ser vítima do próprio nome, uma maldição imposta pela mãe, crente fervorosa, frustrada por não ter seguido a carreira religiosa e insatisfeita com a vida que escolheu.
Maria Auxiliadora foi treinada desde pequena para, como dizia seu nome, auxiliar. A mãe incutiu nela a missão de ajudar o próximo, de conciliar, compreender, relevar e , como fez Jesus, oferecer a outra face. Não havia espaço para sentimentos como frustração, raiva, decepção, muito menos para qualquer agressividade.
Talvez a mãe ao acreditar, ser a maternidade a esperança de realizar sua missão divina, tivesse dirigido o comportamento da filha para algo próximo de santo e humanamente impossível,
Ao chegar a vida adulta Maria Auxiliadora sabia exatamente o que era esperado dela, como deveria agir, o que fazer na maioria das situações, mas sentia que algo estava errado, que vivia a vida de outra pessoa.
Algo estranho e profundo aconteceu ao ler uma frase de São Tomás de Aquino :
"Três coisas são necessárias para a salvação do homem:
Saber o que deve crer, O que deve querer, O que deve fazer!"
Ela que vivia tentando salvar as pessoas e o mundo, não sabia como poderia se salvar, pois não sabia exatamente no que deveria acreditar, querer ou fazer.
Aquela frase ficou na sua cabeça e quanto mais buscava as respostas mais lidava com seus sentimentos. E teve muita raiva. Raiva de muitas situações que viveu, raiva da mãe, raiva de ter que estar disponível, de ajudar quem não gostava e raiva de si mesma.
Admitir que tinha raiva foi um grande passo, pois foi levada a acreditar que não poderia ter esse sentimento e muitos outros.
Ao descobrir que precisava se salvar, Maria Auxiliadora passou a tentar descobrir quem era ela de verdade.
Suas descobertas começaram um processo de libertação mas as pessoas ao seu redor, se chocavam com as mudanças. Ela passou a dizer não, a expressar sua próprias emoções e a se rebelar contra a vida que levava.
A mãe, que atribuía as mudanças ao demônio, chorava, rezava e fazia promessas, apesar de no íntimo, achar que aquela situação era sua fé sendo posta à prova e que tudo voltaria ao normal.
Apesar das pressões para voltar a ser o que era, Maria Auxiliadora, sentia uma leveza imensa em poder ser o que descobria que realmente era.
Esse processo criou um ciclo virtuoso: quanto mais se libertava, mais se percebia e mais livre ficava.
A sensação de liberdade interna trouxe a necessidade uma libertação externa, física. Maria Auxiliadora quis partir e deixar para trás o mundo que não era mais seu, nem fazia sentido.
Assim, ela juntou o pouco que tinha, pegou o primeiro trem,foi viver sua vida e buscar a própria salvação.
Antonio Augusto