O muro e o essencial
Aqui estou eu, trabalhando para uma agência de publicidade. Divido uma sala e compartilho uma enorme mesa com mais oito pessoas, cada um com seu computador e todos voltados para uma mesma direção. Uma porta de vidro com saída para o quintal, onde um imenso muro me vigia e me atormenta. É verdade que adornaram o infeliz com algumas plantas, mas continua sendo um muro. E ele me tira a concentração!
Para piorar a situação o aparelho de ar condicionado quebrou. Tem uma semana que o ambiente de sauna corporativa me impede de produzir qualquer coisa. A pressão baixa devido ao calor me deixa sonolenta e me faz divagar, a ponto de hoje me sentir em uma sala de TV onde os meus relacionamentos passam como videoclipes projetados neste muro.
Lembrei do Maxmilian, o cientista. Ele fazia perguntas demais, perguntava sobre tudo a toda hora. Um verdadeiro interrogatório. Gabava-se em dizer que um bom cientista começava com as perguntas certas. Era cansativo, mas não posso negar que aprendi muito com ele. O que vinha a ser DNA, por exemplo, ou que raios seriam as sinapses e outras tantas esquisitices que ele pesquisava.
Ele ficava surpreso com minha falta de curiosidade e questionamentos. Por conta disso, inspirado por algum escritor francês, disparou uma pergunta devastadora:
"E se fosse isso perder a vida,fazermos a nós próprios as perguntas essenciais tarde demais?"
Já se passaram dezoito anos. E essa pergunta não me sai da cabeça até hoje. O problema é que para responder precisaria descobrir o que, de fato, é essencial.
Antes, como agora, precisava de uma folga desses questionamentos e faltas de respostas sobre o que é realmente essencial. E foi aí que acabei me envolvendo com um gênio da computação com jeito de autista.
Ele me olhava como se eu fosse do outro mundo, não falava quase nada e não desgrudava do smart phone. Levava-o até para o banheiro. Me dava a impressão que me traía com o próprio smart phone. Chegou e partiu sem perguntas e sem dizer a que veio. Terminamos por whatsapp. Simples e indolor.
Depois do gênio, passei um tempo curtindo as amigas. Bons tempos aqueles. Noites de cinema, pipoca, bebedeiras e troca de histórias escrachadas. O que nós mulheres contamos sobre os relacionamentos e o nível de sordidez e detalhes, faz com que os homens pareçam beatos conversando após a missa de domingo.
O muro continua a me olhar e o calor é insuportável. Estou derretendo. Acho que vou morrer de insolação, e pior, sem ainda saber o que é essencial. Será que preciso mesmo saber o que é essencial. Fará diferença?
Tenho saudades do João, ele me fazia esquecer de tudo e viver cada momento como se fosse único e o último. Para ele não existia futuro, só o agora. Como seus pais eram ricos, era fácil esquecer do amanhã. Era bom de cama e divertido, parecia um adolescente...de 43 anos.
Depois de onze meses de relacionamento me disse que tinha um espírito livre, se sentia um passarinho e por isso não conseguia manter vínculos. Disse isso justo pra mim que já estava vinculadíssima. Tive vontade de caçar pardais, abatê-lo em pleno vôo. Mas passou. Tudo passa, até os passarinhos. Menos aquele muro que continua a me olhar e a me torturar, trazendo perguntas. Que muro desagradável!
Acabei de me lembrar que estou sozinha há algum tempo, tempo demais e não vejo ninguém interessante no horizonte. Ou serei eu que estou ficando desinteressante?
Melhor parar de fazer perguntas. Tudo que queria era pular aquele muro e sair em busca de um banho e um sorvete.
Antonio Augusto
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