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Ressentimentos

Postado por Antonio Augusto em 10 Janeiro

Ressentimentos

O filme Álbum de família conta a história de três irmãs que se reencontram para o funeral do pai e convivem alguns dias com a mãe, doente e amarga.

É um relato pungente e profundo de relações afetivas marcadas por questões não resolvidas. Um time de atores excepcional imprime tamanho realismo às cenas, que é impossível não se emocionar e pensar a respeito. Vale por uma sessão de terapia familiar.

O filme poderia ser resumido numa única palavra: ressentimento.

Vejamos o que diz o dicionário:

Recordação de uma afronta, acompanhada do desejo de vingança. Sentimento reservado de qualquer ofensa. Lembrança dolorosa de uma palavra ou ato ofensivo.

Recordação, desejo de vingança, lembrança dolorosa. Esses elementos criam uma bola de neve que destroi relações. A gente não se dá conta que nossos comportamentos movidos por ressentimentos, criam mágoas, no mesmo genero, também na outra parte e aí o ciclo vicioso se estabelece. Pode-se levar anos, mas a bomba um dia explode e, o pior, quando acontece nos damos conta do imenso desperdício de vida que poderia ter sido evitado com um simples diálogo.

Não é coincidência que duas grandes personalidades do século XX, Ghandi e Martin Luther King pregavam a não violência. Eles perceberam que a bola de neve começava com agressão, que gerava mais do mesmo. Ressentimento é antes de mais nada uma agressão. É preciso interromper essa dinâmica.

Outro efeito destrutivo é a amargura. Pessoas ressentidas se tornam amargas, pois relembram a mesma situação dolorosa, centenas de vezes, ano após ano. Elas não se dão conta que o cérebro não distingue vivência de memória. Cada uma dessas lembranças nos devolve com dor aquela experiência negativa. E por que reviver a dor? Eis uma questão de resposta complexa.

É importante ter consciência que vamos criando ressentimentos ao longo do caminho e em qualquer tipo de relação. Nas familiares e nas afetivas, elas são potencializadas pelas grandes emoções, por nossa bagagem e por nossas expectativas.

Ressentimentos são como unhas, a gente tem que cortar sempre, se livrar deles. Como? Colocando pra fora, falando do que nos magoa, esclarecendo e em última análise, perdoando. Difícil mas fundamental. O perdão liberta quem perdoa. Se a gente não se livra dessa carga extra, o peso vai aumentando até o limite do insuportável.

No filme a filha critica a mãe e chega mesmo a odiá-la por ser tão dura, mas acaba se dando conta que ficou igual a ela...e se a gente não quer se tornar igual a quem criticamos um bom começo é nos livrarmos dos ressentimentos.

Antonio Augusto

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Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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