Sobre amores modernos

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Novo caminho

Postado por Antonio Augusto em 02 Dezembro

Novo caminho

Pilar era uma dessas milhares de pessoas que vem para São Paulo, e impulsionadas pelo talento e pela ambição, começam a vida e não conseguem mais voltar.

Ela sentia falta da família e dos amigos mas o desejo de vencer foi se sobrepondo às emoções e a sua sensibilidade. Sobreviver era necessário, planejar cada passo era fundamental, não havia espaço para erro. A vida virou uma série de decisões racionais, medidas, estudadas. As emoções, desconsideradas, pois pensava ela, nublavam sua capacidade de julgamento e reduziam as chances de êxito.

A lógica e a racionalidade prevaleceram em tudo, até na escolha do marido e futuro pai dos filhos. Casou sabendo que gostava dele, mas não sabia se amava, nem sabia se já havia amado.

O casamento fazia sentido. O futuro marido era um bom homem, tinha sucesso profissional, a família tinha aprovado e Pilar sempre fez o que a família esperava dela. Era a melhor aluna, a mais bem comportada, a que mais dava orgulho, aquela que foi para São Paulo fazer mestrado na USP.

Quinze anos se passaram e ela tinha tudo que uma mulher podia sonhar, ou tudo que ela acreditou que deveria ter. Um marido que a amava, um casal de filhos saudáveis, um trabalho bem remunerado, mas faltava algo. Ela não era feliz e sentia um vazio que a consumia por dois motivos: primeiro por achar que não tinha direito a se sentir daquele jeito, segundo porque não sabia exatamente o que faltava.

Pilar era religiosa, rezava sempre para aceitar a vida que tinha. Tentava mas não conseguia.

Após mais dois anos de tentativas, decidiu se separar. Foi um choque e a pressão familiar imensa. Ninguém entendia como ela iria desfazer aquela família, quase perfeita. Ninguém entendia mas ela sabia o que sentia. Impossível dormir com aquele homem, beijar aquele homem. Não era ele quem ela queria.

A separação foi dolorosa e o luto durou um ano. Muitas vezes teve medo e se perguntou se tinha tomado a decisão certa. Deixou o porto seguro e foi navegar sem saber ao certo aonde ir.

Ela que sempre foi tão racional, tomou uma deisão complexa, com profundas implicações baseada somente no que sentia. Estaria ela perdendo o juízo?

Demorou um ano e muitas sessões de terapia para lidar com a pressão da família, dos amigos e da maior delas: uma culpa do tamanho do mundo.

A carência e a necessidade de companhia eram grandes e ela começou a namorar. Algo nele parecia familiar, familiar demais. Gostava dele mas se deu conta de algo sintomático: ele era muito parecido com o ex-marido. Ele fazia companhia mas era uma companhia que dava tédio, que não a entusiasmava, que não despertava nela aquilo que ela buscava, apesar de não saber extamente o que era, e que talvez nem existisse.

Terminou o relacionamento alguns meses depois.

Um dia andava distraída no shopping quando esbarrou em Tomás. Os olhares se cruzaram, ela sorriu, ele sorriu. Ele pegou os pacotes que ela havia derrubado, e a surpreendeu ao perguntar se podiam tomar um café. Sem pensar, ela concordou. Sentaram e conversarm por duas horas até que o celular dela interrompeu. Era o filho mais velho reclamando do atraso.

Despediram-se e trocaram telefones. Passaram a se falar diariamente e Pilar começou a pensar em Tomás, a lembrar do seu jeito.

Ela gostava da maneira diferente de como ele a enxergava e passou a desejar estar mais com ele. Teve medo mas não conseguia analisar ou racionalizar.

Os encontros levaram a um caminho desconhecido, onde pela primeira vez Pilar sentia que perdia o controle e a respiração. Suas emoções constantemente a surpreendiam.

Deitada na cama, abraçada ao travesseiro, rindo sozinha, Pilar sabia que havia encontrado por descuido, finalmente o que procurava. E era bom demais!

Antonio Augusto

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Sobre o Autor

Escritor

Antonio Augusto escreve sobre o que vê, sente, entende e aprende.

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