Pedro,
Novembro chegou rápido e a proximidade de dezembro me fez refletir. Lembrei desses anos juntos, de tudo que vivemos, lembrei porque esperei tanto tempo, lembrei dos meus sonhos, da minha vida e, inevitavelmente, lembrei de tudo que não tenho contigo e que você não pode (ou não consegue) me oferecer.
Eu sou mulher e mulher sonha, planeja, faz passo a passo, escreve o roteiro e dirige o filme. Em nosso filme eu não sou a atriz principal, apareço em umas pontinhas. Eu quero meu nome na telona em letras grandes, ao lado do teu. Eu estou cansada de andar na margem, nas tardes, nos intervalos e nas viagens. Não aguento mais sombra. Eu quero luz do dia, eu quero te beijar na boca no meio da rua, sem olhar para os lados e sem você perder o tom.
Sabe, Pedro, eu ando cansada de querer convencer minhas amigas que nosso dia vai chegar, porque nem eu acredito mais. E quando elas me olham daquele jeito, tenho vontade de sumir e tenho raiva de você, e de mim. Estou cansada de esperar.
Dia desses me peguei chorando ao ler uma frase no Facebook : “Amor adiado é amor terminado”. Li, acusei o baque e chorei feito criança. Como desconsiderar que nosso amor está sendo adiado há anos?
Eu não quero mais adiar minha vida. Eu não quero alguns momentos, quero todos os momentos. Nossos momentos são bons? São maravilhosamente bons, mas você não imagina a ressaca no dia seguinte. Quanto melhores os momentos mais duros os dias seguintes. Eu não quero mais ter medo do dia seguinte.
Quero os Natais em família, quero o Reveillon, quero noite de sábado, tarde de domingo e dormir e acordar todos os dias. Quero a rotina e a convivência que nunca tivemos.
Não quero mais a sensação de ser uma visita em sua vida, de estar de passagem. Eu quero permanência.
Você já deve estar ficando desconfortável, se sentindo pressionado e achando que é mais uma de minhas crises. Não é. Quando você estiver lendo essa carta já estarei morando em outro lugar.
Preciso interromper o que não tem continuidade. Eu sei que você tenta, mas não consegue. Nem eu.
Desejo que você seja feliz. Como diria o Lulu Santos: “Não te quero mal, mas não te quero mais”.
Lígia
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Pedro recebeu a carta, leu, chorou e não tinha como responder, nem mesmo o quê responder.
Antonio Augusto
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