Sobre amores modernos

New York, New York

Estava ele em Nova York, na esquina da 5ª. Avenida com a Rua 59. Ali em frente à loja da Apple, onde estiveram tantas vezes. Lembrava que ela pacientemente o observava, como se fosse uma criança na Disney, entre tantas geringonças eletrônicas que o fascinavam.

Era uma manhã fria de outono e o vento gelado trazia aquelas memórias que insistiam em se materializar em sons e imagens, como um vídeo clip, cujo refrão da música gruda em nossas mentes.

Lembrou-se dela mais uma vez. Dos longos passeios de mãos dadas, do abraço de quem busca o calor humano, do sorriso belo e das bochechas vermelhas por causa do vento frio. Lembrou-se das caminhadas noturnas, das longas conversas nos restaurantes que descobriam juntos, e dos musicais que aprendera com ela a apreciar. Lembrou-se de como era fazer amor com ela.

As memórias eram tão fortes  que o fizeram parar naquela esquina, sentir o

frio mais intenso e observar o sinal luminoso que permitia aos pedestres atravessar.

De repente em meio àquela fumaça que brotava do chão, ele a viu. Caminhava em sua direção com aquele andar de bailarina que tanto o fascinava. Não pode ser, pensava ele! Quem sabe seria apenas o reflexo da sua mente solitária, buscando o que faltava em sua vida?

Não era apenas sua mente pregando uma peça! Ela, também surpresa, se

aproximou, parou e o beijou no rosto. Há quanto tempo! Ele, desconcertado a abraçou num silencio que dizia tudo.

O abraço se desfez e ela sem jeito, falou que pensava nele desde que chegou à cidade novamente  e que, secretamente, desejava encontrá-lo. Viera a essa esquina todos os dias em diferentes horários. Finalmente se encontraram, mas..

Aquela conjunção soou com uma bomba que desfaz sonhos! Mas o que? Pensou ele!

Tudo que conseguia pensar era a música do Gilberto Gil: Vamos fugir !

Desculpe-me a falta de jeito, continuou ela, é que estou aqui com meu namorado. Na

verdade estamos morando juntos há seis meses!

Que pena, pensou ele! E voce está feliz? Perguntou.

Estou tranquila. Amar dá trabalho. E com um riso continuou, você me dava muito trabalho.

Soou estranho para ele. Aquelas eram frases suas que ela agora se apropriava sem quase perceber. Conversaram mais um pouco, quando ela se despediu,desaparecendo rapidamente na multidão.

Ele ficou parado e surdo. Não ouvia mais nada. Deu meia volta , entrou na loja da Apple. Recobrou a audição e passou a ouvir a música da Adele.

Never mind I'll find someone like you! (Não se preocupe, encontrarei alguém como você).

Pois é, assim a trilha sonora de nossas vidas vai sendo composta!

Ele ainda esperava encontrar alguém como ela.

Antonio Augusto