Deferência
No mundo em que vivemos, a gentileza é cada vez mais rara: em expressão e em reconhecimento. É muito triste, pois gentileza é um daqueles fenômenos humanos que se duplicam por mera exposição, assim como um bom e sonoro bocejo. Gentilezas geram gentilezas, quer dizer, assim deveria ser.
Atos de gentileza são cada vez mais vistos com surpresa, desconfiança e suspeição.
A irmã mais nobre da gentileza é a deferência. Se formos ao dicionário, veremos:
DEFERÊNCIA: "Comportamento ou ação que demonstra respeito em relação às outras pessoas, preocupação, zelo e atenção às necessidades e assuntos do outro".
O problema é que para se reconhecer uma deferência e apreciar seu real valor é preciso alcançar a essência do respeito, do cuidado, da preocupação, da demonstração de zelo.
É preciso saber o valor de estar atento ao outro, de olhos bem abertos, sintonizado e ligado em suas necessidades e, além disso, querer atender essas necessidades.
Para uma grande maioria, esse reconhecimento está fora de cogitação, pois sempre foi algo ausente da vida. Vida essa desprovida de gentilezas, deferências, olhos atentos e generosidade.
Para essas pessoas, a deferência é simplesmente confundida com um mero presente. Atribuir à deferência o exato valor material do que é dado, é diminuí-la, é não reconhecê-la, é em última instância ser incapaz de perceber o sentimento nela refletido.
Perceber um gesto de deferência é antes de mais nada, retribuir amor, retribuir o afeto e lubrificar os canais afetivos, mas a experiencia mostra que esses canais estão cada vez mais congestionados, uma verdadeira sinusite amorosa.
Se voce é uma daquelas pessoas que tem a deferência e a gentileza no DNA devido à educação doméstica e à forma amorosa como foi criado, resista ao endurecimento, às ingratidões e acredite que está fazendo o melhor: para você, para o outro e para o mundo. Continue tendo deferência com seu semelhante, pois mesmo que ele não alcance o significado, o universo percebe e retribui.
Antonio Augusto