Carmen sempre foi uma mulher intensa, decidida, destemida. Era otimista, tinha uma autoconfiança admirada por metade do mundo e odiada pela outra metade.
A metade que odiava, o fazia por pura inveja, pois Carmen era inteligente, bonita, cortejada, desejada. Até a genética colaborava, era esbelta e parecia mais jovem que seus 54 anos.
Desde que conheceu Claudio, algo mudou profundamente. As coisas que sempre direcionaram sua vida - trabalho, carreira, dinheiro - começaram a ter um peso menor.
Claudio trouxe uma nova forma de olhar a vida. Ele não tinha pressa, nem grandes ambições, sabia a diferença entre coisas e pessoas, entre o que é importante e o que é essencial. Era artista, pintava quadros e fazia esculturas. Costumava dizer que dava cores e formas ao mundo que percebia.
Ele trouxe leveza, suavidade, entusiasmo, e despertava em Carmen o lado genuinamente feminino há muito adormecido.
Claudio não era o homem que ela havia sonhado, mas era o homem que a mulher dentro dela desejava. Seria quase perfeito não fosse a diferença, entre eles, de 24 anos.
Ela tinha dificuldade em assumir o namoro, de apresentá-lo à sua família, aos amigos e principalmente às amigas.
Os conselhos delas viriam sempre com o rótulo: essa relação tem prazo de validade.
Voltando ao Claudio, sua juventude e criatividade abriam as defesas de Carmen com extrema facilidade. Ele simplesmente a via com um olhar especial, de quem ouve e percebe.
Chamava-lhe a atenção o fato de Claudio não se intimidar com seu cargo, sua renda, sua posição. Ele gostava dela e pronto!
Uma noite na banheira, insenso e velas ao redor, ele a beijou e disse que gostava dela daquele jeito: livre, nua e sua. Ela desmontou!
A melhor arma para lutar contra o coração é a lógica, o conhecido e o que faz sentido. Carmen usou dos três recursos mas não conseguiu domar seu coração.
Lugar sem comportamento é o coração, já dizia Manoel de Barros. Sem comportamento mesmo, pensou ela.
Como não conseguia se convencer do tal prazo de validade, tentou persuadí-lo. Talvez ele se convencesse e fosse embora. Usou da aritmética: disse que em 15 anos ela seria uma senhora e ele só teria 45 anos. Ele retrucou desdenhando: e daí, futura Senhora?
Pela ordem natural ela morreria primeiro. Ele voltou a sorrir e pediu que ela parasse de brincar de cartomante, adivinhando o futuro.
Após vários outros argumentos desperdiçados, ela se deu conta que era tudo coisa de mulher, pois no fundo no fundo, tinha medo que ele partisse. E toda vez que tocava no assunto, ele sorria e falava: quando eu terminar meu milésimo quadro eu vou embora.
Depois de catorze meses lutando contra o que sentia, Carmen finalmente decidiu não ter medo de ser feliz. Que se dane o prazo de validade, pensava ela, se sentindo uma irresponsável, mas irresponsavelmente feliz.
Claudio viajou para fazer uma exposição no Rio de Janeiro. Na sua volta ela proporia que fossem morar juntos.
Ao término da exposição, resolveu voltar de carro com dois amigos. Típico de Claudio, pois ele gostava da vida em seus detalhes, de olhar as paisagens sem pressa. Pra que avião? A estrada, dizia ele, faz com que a gente perceba o que vai deixando para trás.
Claudio nunca chegou. A vida desafiou a lógica, a razão, a ordem natural das coisas.
Carmen perdeu tanto tempo lutando contra o que sentia, esqueceu que até a vida tem prazo de validade.
Antonio Augusto
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